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angústia, nominação realO topos da angústia

parte dos analistas. Não se conheciam ainda as verdadeiras
dimensões do espaço em psicanálise, simplesmente por-
que essas concepções se banhavam no rio das intuições
euclidianas, como acontece com cada um de nós em nosso
dia a dia. Ao serem utilizadas na clínica analítica, fazem
surgir uma proliferação de paradoxos e antinomias que
trazem sérios equívocos à direção da cura. Oposições, tais
como o dentro e o fora, o interior e o exterior, o superfi-
cial e o profundo, nos conduzem, quase que diretamente,
a buscar num outro campo – a maior parte das vezes no
campo filosófico – uma certa garantia de coerência para
a nossa própria práxis. E isso acontece apesar de todas as
críticas que Freud já fazia a esse tipo de subordinação.

De uma certa forma, podemos dizer que Lacan
marca uma separação radical, nesse momento, em relação
ao discurso filosófico do qual se sabe as influências que
recebeu. E é pela questão da angústia que essa separação
pode se dar.

“... Os primeiros passos do meu ensinamento caminharam
nos passos da dialética hegeliana, etapa necessária para abrir
uma brecha neste mundo dito da positividade. A dialética
hegeliana remete-se a raízes lógicas, déficit intrínseco à
lógica da predicação: a saber, que o universal não se funda
senão da negação e que o particular somente ao encontrar
nela a existência, aparece aí como contingente. Toda
dialética hegeliana feita para tampar essa falha mostra aí,
numa prestigiosa transmutação, como o universal, pela
via da escansão – tese, antítese, síntese –, pode chegar a
se particularizar. Mas, quaisquer que sejam os efeitos de
prestígio da dialética hegeliana, ainda que seja por Marx que

84 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015
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