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Nestor Lima Vaz

isso se devesse ao próprio percurso de construção teórica

que levava Lacan não só aos limites do registro do simbólico,

mas a um questionamento dos limites do próprio uso de

um modelo para pensar o real da clínica.

Uma modificação foi se impondo ao longo do

tempo a partir de seu estudo sobre as relações de objeto,

sobre a direção de uma clínica, vigente naquela época,

que passava a desconhecer o caráter de objeto perdido

enunciado por Freud. Contudo, é na sua conceituação de

Das Ding, a Coisa, retomada do texto de Freud “O Projeto

de Psicologia (FREUD, v. I, 1976)”, que uma virada se

dá no sentido de colocar em primeiro plano a questão do

real, embora de uma forma ainda carregada pela discussão angústia, nominação real

filosófica que permeia todo o Seminário sobre “A Ética da

Psicanálise” (LACAN,1959-60) desde Kant até Heidegger.

Essa discussão também atravessa o Seminário sobre a

Transferência onde o objeto se apresenta sob a forma de

ágalma, o brilho do objeto.
Uma das características do Seminário da Iden-

tificação é de não centrar a questão do real na discussão fi-

losófica, embora elas nunca deixem de existir nos textos de
Lacan, mas sim no uso da topologia, analysis situs, como
a via de mostração dessa dimensão. E isso justamente pela

introdução de geometrias não euclidianas, isto é, geome-
trias que, ao modificarem certos postulados de Euclides
que serviram de arcabouço para a matemática e a física até

Newton, abriram um novo caminho para a ciência. Nesse

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015 89
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