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angústia, nominação realO topos da angústia

solidão não é o vazio e sim que espécie de fantasmas a
habitam.

O esforço de Lacan desde os seus primeiros
seminários era promover uma releitura de Freud a partir
da renovação do contexto epistemológico de nossa época,
isto é, tomando o avanço da ciência como uma espécie
de paradigma para a teoria psicanalítica. Isto já era feito
por Freud que sempre fez recurso a modelos da física,
da biologia para melhor definir os elementos de sua
metapsicologia. Contudo, seria ingenuidade pensar que
a ciência tenha permanecido nesse mesmo patamar em
que se encontrava no final do século XIX, que o conceito
de energia, por exemplo, não tenha sofrido profundos
remanejamentos com o desenvolvimento da física quântica,
ou que a biologia não tenha modificado os parâmetros de
sua genética com a descoberta da molécula de DNA.

A partir desses princípios, no que se chamou de
estruturalismo, Lacan tomou um modelo da Linguística
seguindo uma trilha aberta por Claude Lévi-Strauss
na Antropologia, ao enunciar que: “O inconsciente é
estruturado como uma linguagem” (LACAN, 1966, p.269)
e fazendo uma distinção entre três registros distintos: o
simbólico, o imaginário e o real. Isso lhe permitiu operar
uma série de modificações na teoria psicanalítica e abrir
uma nova perspectiva sobre a clínica.

Contudo, o registro do real era o que permanecia
mais à sombra em relação aos dois outros registros. Talvez

88 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015
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