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Nestor Lima Vaz

mesmo as passagens ao ato são as saídas encontradas pelos

sujeitos para preservarem aquilo que lhes dá dignidade e
que é justamente a dimensão secreta dos seus desejos.

Uma outra questão importante é a de saber qual

é a relação entre desejo e gozo articulada nas fantasias

primordiais dos sujeitos que, ao mesmo tempo em que

lhes trazem satisfação imaginária, fixam uma posição

masoquista em seus sintomas?

Julgamos ser em Lacan que podemos encontrar

elementos que nos mostram melhor ou até mesmo de

outra forma como abordar esses paradoxos. Não porque

pensamos que Freud esteja ultrapassado, mas justamente

porque foi o próprio Freud que, ao fazer a psicanálise angústia, nominação real

tributária do conceito de ciência, tornou possível a tarefa de

Lacan de marcar os balizamentos necessários para trazer

um rigor teórico, a partir dos avanços da ciência, para os

fundamentos da psicanálise.

A rigor, falar de um lugar da angústia só foi pos-

sível a Lacan a partir de um certo momento do seu per-

curso teórico em que se produziu uma virada importante

no eixo de sua articulação conceitual. Esse momento se

deu no seu Seminário sobre a Identificação, no qual ele

nos apresentou certos objetos comuns à topologia, ramo
das matemáticas, tais como o toro e o cross-cap. A prática

de manipulação desses objetos, tão comuns e triviais para

os matemáticos, visava a uma verdadeira subversão da con-

cepção de espaço que reinava (e ainda reina) entre a maior

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015 83
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