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angústia, nominação realO topos da angústia

que parecem intangíveis nesse ponto de estreitamento do
sintoma do sujeito oferecido à escuta e que caracteriza
a própria etimologia da palavra angústia. Estreitamento
onde o sujeito se defronta com algo que o atinge mais
intimamente, cuja causa lhe é desconhecida, mas que nem
por isso cessa de afetá-lo como sofrimento, desespero e
várias formas do mal-estar na cultura. Estreitamento onde
ele testemunha algo que o faz sujeito, pois que insiste,
persiste em acompanhá-lo mesmo que revestido na forma
do sintoma. Estreitamento que requer sempre cuidados
para que o sujeito não caia nesse trajeto, onde o que deve
cair no final é o próprio analista.2

A angústia se apresenta na própria demanda
com que alguém busca uma análise, demonstrando que o
encontro com esse estreitamento no próprio desfiladeiro
do significante já se produziu. É esse primeiro ponto
de ruptura, de separação no próprio sintoma, que será
acolhido como enigma do que pode constituir o início de
uma análise, recoberto pelo significante da transferência
em sua relação ao sujeito suposto saber. Esse ponto
enigmático é o fio condutor dessa experiência de análise.
A emergência da angústia demarca em sua localização a
própria relação do sujeito ao seu desejo. A análise é um
empreendimento de risco, pois não se sabe de antemão
em que terreno se pisa, qual a dimensão do buraco que se

2 A referência à ética do ato analítico é aqui fundamental.
80 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015
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