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Nestor Lima Vaz angústia, nominação real
atravessa,3 que edificações se encontram aí no caminho e
quais os pontos de travessia possíveis.
Rigorosamente poderíamos afirmar que só
vislumbramos o que nos fez entrar em análise quando
saímos. Isso pode parecer um paradoxo, mas na repetição
em que o sujeito insiste em apreender justamente o que
se lhe escapa e faz sua obstinação em falar disso, são os
giros da demanda que lhe impedem de retornar ao mesmo
ponto, pois que é sempre a diferença que se lhe apresenta.
Mas a queixa de que repete a mesma coisa toma seu
testemunho de um ponto fora de linha, como diria Lacan,
não articulado pelo sujeito senão como afeto. A aposta
do analista, a sustentação do ato analítico, é justamente
não deixar que isso que a angústia tornou possível abrir,
separar, possa retornar a uma circularidade, que é a leitura
que o sujeito neurótico faz de seu desejo. Trabalho árduo.
O manejo da angústia é, pois, a demarcação
desse buraco e, justamente pela via do desfiladeiro do
significante, fazer borda, seguir nesse ponto o circuito
pulsional. A questão de saber quanto de angústia pode
suportar o analisante não é uma questão teórica, mas uma
questão da prática analítica e da ética da análise e coloca
em jogo o desejo do analista.
Esse trabalho se dá a cada sessão, a cada corte,
a cada impasse onde a única certeza que se recolhe vem
3 Ainda mais de um buraco que nenhuma métrica pode medir. 81
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015
atravessa,3 que edificações se encontram aí no caminho e
quais os pontos de travessia possíveis.
Rigorosamente poderíamos afirmar que só
vislumbramos o que nos fez entrar em análise quando
saímos. Isso pode parecer um paradoxo, mas na repetição
em que o sujeito insiste em apreender justamente o que
se lhe escapa e faz sua obstinação em falar disso, são os
giros da demanda que lhe impedem de retornar ao mesmo
ponto, pois que é sempre a diferença que se lhe apresenta.
Mas a queixa de que repete a mesma coisa toma seu
testemunho de um ponto fora de linha, como diria Lacan,
não articulado pelo sujeito senão como afeto. A aposta
do analista, a sustentação do ato analítico, é justamente
não deixar que isso que a angústia tornou possível abrir,
separar, possa retornar a uma circularidade, que é a leitura
que o sujeito neurótico faz de seu desejo. Trabalho árduo.
O manejo da angústia é, pois, a demarcação
desse buraco e, justamente pela via do desfiladeiro do
significante, fazer borda, seguir nesse ponto o circuito
pulsional. A questão de saber quanto de angústia pode
suportar o analisante não é uma questão teórica, mas uma
questão da prática analítica e da ética da análise e coloca
em jogo o desejo do analista.
Esse trabalho se dá a cada sessão, a cada corte,
a cada impasse onde a única certeza que se recolhe vem
3 Ainda mais de um buraco que nenhuma métrica pode medir. 81
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015