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angústia, nominação realO topos da angústia

justamente da angústia que se revela ou que se oculta, que
se intensifica ou se abranda em função da proximidade ou
da distância desse ponto onde ela pode emergir. E o mais
paradoxal, tal como vemos em certos pesadelos e mesmo
na vida de vigília, é que em geral ela emerge não se sabe de
onde e subitamente, plötzlich, como Freud nos aponta no
seu texto sobre Das Unheimliche, a inquietante estranheza
(FREUD, v. XVII, 1970, p. 253). Em tais sonhos, o sujeito
é presa de angústia, mas sem que nada nas cenas que
antecediam esse surgimento pudessem antecipar algo.

É como aporia que essa junção, esse enlace
entre o “não se sabe de onde vem” e esse “subitamente”,
isto é, esse enlace entre espaço e tempo, aparece para o
analisante. Alguns sujeitos em análise dizem: “A análise
não serve para nada, pois você não consegue me dizer por
que eu sempre volto a ficar tão angustiado”. Para esses
sujeitos, realmente não era o que o analista podia dizer que
trazia uma modificação a essa angústia, mas justamente
um corte de separação do objeto ao que eles se fixavam e
um convite a continuarem o trabalho num outro momento a
ser definido: às vezes no mesmo dia, ou mesmo num outro
dia a ser marcado. Esse tempo da angústia e a espacialidade
do objeto requerem uma investigação que possa reunir, em
continuidade, certos elementos que só encontramos na
fenomenologia clínica de forma descontínua e paradoxal.
Esses elementos se apresentam como aporias, becos
sem saída subjetivos, onde as atuações (acting-out) e até

82 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 79-85, 2015
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