Page 20 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaDe um resto que ainda resta: o traço e a lógica

No ponto em que Frege constrói o conceito, é que encontra-
mos sua definição de número, que tanto interessou a Lacan.
Oldenhove (2006) nos lembra que a maior parte das pro-
postas de Lacan sobre o Zero em seus seminários se refere
à maneira como o matemático Gottlob Frege fundou a se-
quência dos números cardinais sobre o Zero. Nesse sentido,
Lacan diz que “o sujeito seria em suma reconhecível nisso
que se constata, no pensamento matemático, estreitamente
atrelado ao conceito de falta, a este conceito cujo número é
Zero” (LACAN, 1964-1965, p. 177).

Frege avança ainda mais ao definir o Zero e o Um e, nesse
avanço, reencontramos o interesse de Lacan por ele. A de-
finição fregeana afirma que o número não é representação,
pois “se o número fosse uma representação, a aritmética
seria psicologia” (FREGE, 1989, apud IANNINI, 2009, p.
5). Essa nova demarcação nos leva à invenção do Zero que
tem uma longa história. Lacan (1964-1965) retorna a esse
ponto, em “O Seminário 12: problemas cruciais para a psi-
canálise”, falando do Zero, do Um e do Dois. Como nos
lembra Krymkiewicz:

As teses de Frege demonstram que o ‘ser’ do número não
se sustenta na natureza física, mas na natureza lógica do
conceito. A importância desta tese para Lacan está em sua
postulação de moterialismo e parlêtre: no sentido de uma
ontologia que se realiza no campo da linguagem, de natu-
reza lógica, absolutamente independente da natureza física
(KRYMKIEWICZ, 2017, p. 4, tradução nossa).

20 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 13-27, 2018
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