Page 24 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaDe um resto que ainda resta: o traço e a lógica

eles faziam com o corpo que tinham? E o que desse corpo
provoca um vacilo na contagem? Cruglak nos diz que:

[...] o sujeito possa aceder a seu próprio corpo não é algo
natural. O corpo, o que chamamos corpo próprio, sofre um
dispêndio de gozo pelo fato de que é tomado pelo signifi-
cante precisamente para ser corpo. O que distingue ‘essa
presença de corpo animal do que logo nomeamos corpo pró-
prio’ é a inscrição de uma marca significante. Isso depende
inteiramente do Outro não somente porque, como bem sa-
bemos, o significante está no campo do Outro, senão porque
é um ‘pequeno gesto de amor’ que esboça a marca. É possí-
vel que deste pequeno gesto dependam os destinos da ins-
crição, já que nela está comprometida a lógica da extração
pela qual, desde o movimento inicial, a marca terá chance
de ordenar-se em uma cadeia significante para poder ser
marca própria ou não. Movimento inicial indatável, a álgebra
lacaniana nos oferece a possibilidade de anotar a extração
com um Um afetado pelo signo – menos –, que designa o
lugar do Outro (A). ‘Do Um-a-menos, o leito é constituído
pela intrusão que avança da extrusão; é o significante mes-
mo’ (CRUGLAK, 2001, p. 129).

Somos tomados pelo resto que impõe uma lógica própria,
que compõe a lógica de um campo e a lógica do corpo. Nes-
se sentido, Lacan demarca que:

[...] o gozo é exatamente correlativo à forma primeira da en-
trada em ação do que chamo a marca, o traço unário, que
marca para a morte, se quiserem dar-lhe seu sentido. Ob-
servem bem que nada toma sentido até que a morte entre na
jogada (LACAN, 1969-1970, p. 169).

Nessa lógica, cada um é convocado a ler sua própria marca,
como nos ensina a letra do poeta:

24 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 13-27, 2018
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