Page 23 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Cláudia Aparecida de Oliveira Leite

[...] o sujeito é insituável, impensável fora dessa pulsação, A economia pulsional, o gozo e sua lógica
tão bem figurada por esta oscilação do Zero ao Um que se
verifica como sendo, em toda aproximação do número, ne-
cessária para que o número seja pensável (LACAN, 1964-
1965, p. 186).

Desse modo, para Lacan, arrancados que fomos da natu-
reza, passamos a ser contados antes mesmo de contar e
nos contar. Carregamos o traço do Outro que perfura a car-
ne para torná-la corpo. A palavra “corpo sutil” humaniza a
carne e faz um corpo imerso no laço social que nos faz ser
contados, lidos antes mesmo do nosso nascimento.

Nessa operação, resta um resto que nos “im-porta”. Olde-
nhove (2006) descreve esse resto “informulável”, que in-
clusive embaraçou Frege, nos seguintes termos:

Para um matemático ou para um lógico, não pode haver res-
to: a sutura deve ser completa, perfeita, sem falhas. Aqui
onde a ciência e a lógica se embaraçam neste resto na re-
lação do Um com o Zero, Lacan o identifica, o nomeia, o
escreve: a. Pequeno a, o que escapa tanto ao significante
quanto ao número, mas que funda seus funcionamentos
(OLDENHOVE, 2006, p. 84, tradução nossa).

Objeto a, o resto informulável é efeito da intrusão do Ou-
tro. A experiência subjetiva, nos orifícios que restam do en-
contro com o Outro, faz modelar a invenção lacaniana que
se chama objeto a, e que, por sua extensão, inclina, inter-
fere em toda economia possível disso que comparece como
corpo. Um a mais, Um demais, Um a menos. A conta não
fecha quando se conta com o corpo. Ao ver os homens da
expedição de Shackleton, nós podemos interrogar: O que

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 13-27, 2018 23
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