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Viviane Gambogi Cardoso

Essa revelação do objeto como causa leva Lacan

a situar o a onde dizemos Eu (je), no nível do inconsciente.

Ou seja, nós somos o a, e é disso que temos horror. Isso é

intolerável.

Lacan diz que “o objeto liga-se à sua falta

necessária ali onde o sujeito se constitui no lugar do Outro,

isto é, o mais longe possível, além até do que pode aparecer

no retorno do recalcado” (LACAN, 2005, p.121). Na

transferência, ele aparece como ágalma, lugar vazio, onde a

constituição da imagem especular mostra seu limite. Esse

é o lugar de eleição da angústia.

A angústia surge quando um mecanismo faz

aparecer alguma coisa no lugar do - φ, que corresponde angústia, nominação real
ao lugar ocupado pelo a do objeto do desejo. Esse lugar

designado pelo - φ é a angústia de castração em sua relação
com Outro.

A angústia de castração foi o último termo a que

Freud chegou ao elaborar sobre a experiência do neurótico,

seu ponto de chegada, seu obstáculo, termo intransponível.

Lacan vai além quando diz que o neurótico recua,

não da castração, mas de fazer da castração o que falta no

Outro. Isso significa fazer da castração algo positivo, ou

seja, dedicá-la à garantia do Outro.

A angústia não é sem objeto. É algo que vem

como um enigma do sujeito no campo do Outro. Um resto

da relação do sujeito com o Outro. A angústia é sua única

tradução subjetiva. 101

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 97-109, 2015
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