Page 99 - revista_ato (1)
P. 99
Viviane Gambogi Cardoso
primitiva do desejo do Outro, opaca e obscura, fica sem
recursos, e isso o convoca infalivelmente à angústia, que
ele tenta neutralizar com seu fantasma. A estrutura do
fantasma é convocada como algo que mediatiza a relação
do sujeito com o objeto de seu desejo. O fantasma vem
como resposta ao S(A), numa tentativa de recobrir o real.
A angústia surge como sinal de algo que falta,
a falta da falta, resposta ao real evocada pela incidência do
desejo. O desejo do Outro se endereça ao sujeito e o coloca
em questão.
Freud se deteve na característica de sinal como
a mais apropriada para indicar aos analistas a escuta que
podemos fazer da angústia. A angústia funciona assim angústia, nominação real
como sinal do real de forma irredutível. É nesse sentido
que Lacan fala da angústia como sinal que não engana e
surge diante de algo irredutível do real.
O dispositivo analítico é um dispositivo gerador
de angústia, primeiramente por colocar o sujeito em uma
experiência de indeterminação – dizer o que vem à cabeça,
falar o que vem à mente. Do lado do analista, temos a
atenção flutuante, ou seja, não selecionar o conteúdo
daquilo que seu paciente diz, nem mesmo dispor de um
juízo de valor.
O que guiaria o analista em sua práxis, se ele
não deve selecionar o conteúdo daquilo que o paciente fala?
Qual seria o índice a orientar o analista na direção da cura?
É justamente a angústia, como índice de discordância 99
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 97-109, 2015
primitiva do desejo do Outro, opaca e obscura, fica sem
recursos, e isso o convoca infalivelmente à angústia, que
ele tenta neutralizar com seu fantasma. A estrutura do
fantasma é convocada como algo que mediatiza a relação
do sujeito com o objeto de seu desejo. O fantasma vem
como resposta ao S(A), numa tentativa de recobrir o real.
A angústia surge como sinal de algo que falta,
a falta da falta, resposta ao real evocada pela incidência do
desejo. O desejo do Outro se endereça ao sujeito e o coloca
em questão.
Freud se deteve na característica de sinal como
a mais apropriada para indicar aos analistas a escuta que
podemos fazer da angústia. A angústia funciona assim angústia, nominação real
como sinal do real de forma irredutível. É nesse sentido
que Lacan fala da angústia como sinal que não engana e
surge diante de algo irredutível do real.
O dispositivo analítico é um dispositivo gerador
de angústia, primeiramente por colocar o sujeito em uma
experiência de indeterminação – dizer o que vem à cabeça,
falar o que vem à mente. Do lado do analista, temos a
atenção flutuante, ou seja, não selecionar o conteúdo
daquilo que seu paciente diz, nem mesmo dispor de um
juízo de valor.
O que guiaria o analista em sua práxis, se ele
não deve selecionar o conteúdo daquilo que o paciente fala?
Qual seria o índice a orientar o analista na direção da cura?
É justamente a angústia, como índice de discordância 99
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 97-109, 2015