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angústia, nominação realAngústia, nominação real

momento em que isso é sabido, em que algo [do real] chega
ao saber, há alguma coisa perdida, e a maneira mais segura
de abordar esse algo perdido é concebê-lo como um pedaço
de corpo” (LACAN, 2005, p.149). Essa é a verdade que
nos é dada pela experiência analítica, sob forma maciça e
opaca e em seu caráter irredutível. Esse ponto é aquele de
onde surge a existência do significante, e que, em certo
sentido, não pode ser significado. É o chamado ponto falta-
de-significante. Ponto que tentamos incessantemente
contorná-lo, mas que nesse esforço só fazemos desenhar
mais seu contorno. E, na medida em que nos aproximamos
dele, somos tentados a esquecê-lo, em função da própria
estrutura representada por essa falta.

A função de corte está sempre em questão na
análise, seja em que ponto for. O corte é uma operação que
incide sobre o ponto de falta, detecta o ponto do buraco
estrutural. No cross-cap, com o corte, a formalização da
fantasia se escreve com um resto, o objeto a, destacado de
uma banda de Moebius, que representa o sujeito barrado
em razão desta perda.

O objeto a, no ensino de Lacan, vai se escre-
vendo de diversas formas. Na topologia dos nós, ele está
situado no campo do gozo, bordejado pelo gozo do Outro,
pelo gozo fálico e pelo sentido. É uma tentativa de escre-
ver o que não pode ser abordado pela palavra. Na escritura
do nó, encontramos a tríade Inibição, Sintoma e Angústia,
abordada por Lacan como Nomes-do-Pai, cuja função é

106 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 97-109, 2015
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