Page 79 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Marília Pires Botelho

corporal, que desnuda o real do corpo dessexualizado. Há
uma correspondência dessa falta no nível simbólico, que,
através do sintoma, tenta repará-la, invadindo o imaginário.

O falo que a histérica encontra no Pai é sempre insuficien- A economia pulsional, o gozo e sua lógica
te. O Pai, na verdade, é, por estrutura, impotente. Mas, sua
demanda a esse Pai revela outra questão: a problemática 79
da feminilidade. Questão que está posta para toda mulher,
para todo sujeito.

Passar da histeria à feminilidade pode ser tomado como
um ideal da análise. Mas, para Lacan (1973), no que tange
ao feminino, espera-se a contingência. O trabalho de aná-
lise de uma mulher não obedece e não é o resultado de uma
elaboração de saber, mas – de forma contingente – pode
fazer advir nela uma mulher.

Em “O Seminário 20: mais, ainda”, Lacan vai retomando
e explicitando as diversas modalidades de gozo: o gozo do
Outro, o gozo fálico, o mais-de-gozar e o gozo feminino.
Nesse seminário, Lacan marca a distância da linguística
à “linguisteria”, palavra que ele forja, apontando que, no
nível do dito, há um dizer que não pertence ao campo da
linguística. “É pelas consequências do dito que se julga o
dizer” (LACAN,1972-1973, p. 69). E, só a partir disso, ele
reafirma e diz conceber a ideia do inconsciente estrutura-
do como uma linguagem.

Ao se interpelar o que é um significante, Lacan levanta
questões em torno da significância, dos efeitos de signi-

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 73-83, 2018
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