Page 74 - Revista ATO Ano 4 N 4
P. 74
A economia pulsional, o gozo e sua lógicaO corpo no circuito pulsional

Nas leituras sobre bulimia e anorexia, me deparei com a
afirmativa de que a anorexia é um modo de fazer valer o
poder da imagem sobre o poder do significante. O que nos
incita a perguntar: qual é o poder da imagem e qual é o po-
der do significante? E o que dizer do real?

Segundo Recalcati (2004), Lacan diz que o significante
impõe ao sujeito o “sacrifício da carne”, pois onde está o
significante está a “morte da Coisa”. O corpo deixa de ser
tomado como carne e passa a ser um corpo esburacado,
posto que marcado pelo significante, pela linguagem. Passa
a ser um corpo simbólico e, com isto, perde uma parcela
do gozo.

Para que um corpo se sexualize, seja revestido por uma
imagem corporal erotizada, é preciso uma intervenção em
nível simbólico. É o simbólico que ordena o corpo real, or-
gânico, portanto só podemos pensar num real do corpo em
relação ao limite do simbólico. Cronologicamente, o real
precede essa organização simbólica, mas, é só, no a pos-
teriori da determinação simbólica, que ele ex-siste e que
podemos designá-lo como tal. “[...] é bem a teoria da pul-
são sexual que deve encontrar lugar no plano de fundo do
processo significante da sexualização e de sua incidência
sobre o corpo” (ANDRÉ, 1998, p. 105).

O corpo tomado pelo significante é o corpo que se abre
pulsionalmente, ou seja: é algo que se coloca não somen-
te como soma, mas é, também, inscrito no psiquismo do

74 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 73-83, 2018
   69   70   71   72   73   74   75   76   77   78   79