Page 76 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaO corpo no circuito pulsional

vezes é sentida como uma necessidade. A pulsão envolve as
zonas erógenas, que, através de suas bordas, possibilitam a
conexão entre o interno e o externo.

Maire Jaanus (1997) afirma que isso ocorre como num
pentimento, palavra italiana para arrependimento, mas em
muitas línguas significa um esboço encoberto pela versão
final de um quadro. Para essa autora as linhas originais se-
riam o instinto sobre o qual se esboçam a pulsão e o desejo.

Vemos, então, que:

[...] por trás da forma visível no espelho emerge a vida da
carne, invisível e complexa... Para Lacan, porém, a carne é
“selvagem” porque sem palavras, mas é um logos na medida
em que tem uma vida inalterável e uma morte lógica, pró-
prias (JAANUS, 1997, p. 134).

Tanto o corpo dos instintos como o corpo das pulsões, am-
bos, fazem parte do circuito pulsional. Para Freud (1905), a
pulsão é um conceito limite entre o somático e o psíquico.
Embora ela se apoie na função somática, não se confunde
com esta.

Em 1910, Freud escreve o artigo “A concepção psicanalíti-
ca da perturbação psicogênica da visão”. Nesse artigo, ele
constata que tal sintoma, no caso, a cegueira histérica, em
que o sujeito vê e, ao mesmo tempo, não vê, tem a função
de reparar, de alguma maneira, o fracasso do recalque, cujo
papel é estabelecer, entre o sexual e o não sexual, a frontei-
ra para que não se produza a “perda da realidade”. Freud

76 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 73-83, 2018
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