Page 77 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Marília Pires Botelho

encontra aí a oposição entre a pulsão a serviço da função A economia pulsional, o gozo e sua lógica
sexual e a pulsão a serviço de uma função puramente or-
gânica. O que está em jogo é a oposição entre o desejo e
a necessidade. A necessidade é inteiramente apagada pelo
impulso do desejo. A pulsão sexual, em vez de se apoiar
no somático, apossa-se do órgão e o anula. Estas e outras
questões irão, de certa forma, conduzir Freud à teoria das
pulsões.

Esse artigo de Freud é de grande importância clínica, pois
frequentemente nos deparamos com situações, como em
alguns casos de bulimia e anorexia, em que vemos a neces-
sidade e o desejo disputarem um mesmo órgão:

[...] ora é a função orgânica da alimentação que parece se 77
apossar da boca, levando o sujeito a se empanturrar até o
limite da repulsa e do vômito; ora, em resposta à repulsa,
é a função erótica que assume a direção, o sujeito fazendo
então greve de fome para só se sustentar pelo nada de desejo
(ANDRÉ, 1998, p. 108).

Eu não me deixo comer: é o que diz uma paciente com ano-
rexia.

Além de constatar que a origem do sintoma histérico deve
ser buscada no fracasso do recalque, Freud aponta, ainda,
que na histeria há uma prevalência da imagem. Observa
que mesmo quando há uma queixa que aponte para um
local interno do corpo, é sempre a uma questão imaginária
que a histérica está se referindo. É como se essa vestimen-
ta imaginária, o tempo todo, se ameaçasse cair, se desmo-
ronar, dando lugar ao real do corpo.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 73-83, 2018
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