Page 78 - Revista ATO Ano 4 N 4
P. 78
A economia pulsional, o gozo e sua lógicaO corpo no circuito pulsional

[...] é quando a carne aponta sob o vestido, sob a maquila-
gem ou sob a máscara da sedução que a histérica se vê suja,
feia, repugnante, reduzida ao estado de vianda (ANDRÉ,
1998, p. 110).

Lacan (1936), por ocasião de sua teorização do imaginário,
diz que o que está em jogo na função da imagem é a ideia
de uma identidade unificada do sujeito. Essa identidade é
constituída através do Outro, inicialmente o Outro mater-
no. Na relação mãe-criança, o falo é tomado em sua ver-
tente imaginária. Mas, é, pelo lado do pai, que o falo pode
receber seu fundamento simbólico.

No entanto, a insígnia paterna só sugere a identificação
fálica, não dá à mulher o ponto de apoio para uma iden-
tificação especificamente feminina. Isso significa que sua
imagem corporal não é suficiente para revestir e erotizar o
real do corpo a não ser que ela se faça toda fálica. O que a
histérica teme é se deparar com esse real do corpo desse-
xualizado, escondido sob a máscara fálica. Privada de uma
identificação especificamente feminina, resta-lhe reduzir-
se ao estatuto de objeto, aprisionada à fantasia masculina.
Em decorrência disso, sua saída é pelo excesso de sexuali-
zação do corpo imaginário.

Para Serge André (1998), mais do que um fracasso do re-
calque, o que está em causa é uma impossibilidade de re-
calcar: há uma falta radical do representante que deveria
ser recalcado. Logo, a lógica da construção histérica é de-
marcada por uma falta no nível da constituição da imagem

78 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 73-83, 2018
   73   74   75   76   77   78   79   80   81   82   83