Page 75 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Marília Pires Botelho

sujeito. A partir daí qualquer região do corpo pode ser in- A economia pulsional, o gozo e sua lógica
vestida sexualmente e vir a funcionar como zona erógena,
mas certas zonas são mais suscetíveis para esta função.
São zonas reduzidas à sua função de borda, como: a zona
oral, anal, fálica, escópica e auditiva. Elas determinam,
com maior ou menor especificidade, certo tipo de alvo se-
xual. Como lembra Lacan (1964), em “O Seminário 11: os
quatro conceitos fundamentais da psicanálise”, quando há
uma queda da sexualização, ou seja, uma dessexualização,
outras zonas intervêm em nossa sintomatologia.

Numa discussão com os participantes de seu seminário,
ele diz que: “É justamente na medida em que as zonas ane-
xas, conexas, são excluídas, que outras tomam sua função
erógena, que elas se tornam fontes específicas para a pul-
são” (LACAN, 1964, p. 163).

Maire Jaanus (1997), no capítulo “A desmontagem da
pulsão”, do livro “Para ler o Seminário 11 de Lacan”, diz
que:

[...] no esquema L de Lacan, o corpo foi figurado como uma
distinção entre a imagem corporal e o corpo fragmentado.
O Seminário 11, Lacan, com um novo corte, cria dois no-
vos ‘corpos’, o corpo dos instintos e o corpo das pulsões”
(JAANUS, 1997, p. 34).

O corpo dos instintos diz respeito à vida biológica, às ne-
cessidades indispensáveis para a nossa sobrevivência. O
corpo das pulsões é um corpo de falta, de querer ou de exi-
gência. Uma exigência tão forte e avassaladora, que muitas

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 73-83, 2018 75
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