Page 70 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaO gozo nosso de cada dia
deixam dormir. Tudo começou com a partida da namorada
para um curso no exterior: não sei se ela vai voltar...
A análise se põe em curso, o discurso se presentifica em
um dis-o-curso. Palavras embebidas pelo afeto, muitas ve-
zes atra-palavras. Surgem significantes como largado, es-
quecível.
O analista escuta e procura designar o lugar-tenente da
representação, o tropeço, o fisgamento que está em outro
lugar, outra cena, além do significante. Na brincadeira do
carretel não é o retorno da mãe que está em jogo, mas a
repetição de sua saída como causa da Spaltung (clivagem)
no sujeito. O que o jogo visa, segundo Lacan (1964), é o
que não está lá enquanto representado, pois o jogo é essen-
cialmente o repräsentanz da Vorstellung (representante da
representação).
E o paciente traz um trecho traduzido de uma música da
banda “Real Friends”:
“Tem noites que eu fico pensando se existe alguém que
sente como eu me sinto. Isso me ajuda a pensar que eu não
estou sozinho.”
Terminada a sessão, já de saída, o paciente diz: anota aí o
nome da música, talvez você possa usar no tratamento de
outra pessoa que sente como eu: “I have never been home”
(eu nunca estive em casa).
70 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 61-71, 2018
deixam dormir. Tudo começou com a partida da namorada
para um curso no exterior: não sei se ela vai voltar...
A análise se põe em curso, o discurso se presentifica em
um dis-o-curso. Palavras embebidas pelo afeto, muitas ve-
zes atra-palavras. Surgem significantes como largado, es-
quecível.
O analista escuta e procura designar o lugar-tenente da
representação, o tropeço, o fisgamento que está em outro
lugar, outra cena, além do significante. Na brincadeira do
carretel não é o retorno da mãe que está em jogo, mas a
repetição de sua saída como causa da Spaltung (clivagem)
no sujeito. O que o jogo visa, segundo Lacan (1964), é o
que não está lá enquanto representado, pois o jogo é essen-
cialmente o repräsentanz da Vorstellung (representante da
representação).
E o paciente traz um trecho traduzido de uma música da
banda “Real Friends”:
“Tem noites que eu fico pensando se existe alguém que
sente como eu me sinto. Isso me ajuda a pensar que eu não
estou sozinho.”
Terminada a sessão, já de saída, o paciente diz: anota aí o
nome da música, talvez você possa usar no tratamento de
outra pessoa que sente como eu: “I have never been home”
(eu nunca estive em casa).
70 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 61-71, 2018