Page 68 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaO gozo nosso de cada dia

Como o gozo afeta a nossa vida? Como o gozo aparece na
clínica e como se articula na experiência analítica?

O gozo afeta nossas vidas a partir da repetição infinitiza-
da que causa enorme sofrimento. Estamos falando do gozo
relacionado ao ponto na estrutura, que marca o encontro
faltoso para sempre perdido. Gozo cifrado pela linguagem,
marcas mnêmicas próprias de cada sujeito. Cada um tem
sua forma de gozar.

Freud (1914) abre para o trabalho em análise. Segundo
ele, o instrumento principal, para reprimir a compulsão
do paciente à repetição e transformá-la num motivo para
recordar, reside no manejo da transferência. Trata-se de
substituir sua neurose comum por uma “neurose de trans-
ferência”. A transferência criaria uma “região intermediá-
ria entre a doença e a vida real, através da qual a transição
de uma para outra é efetuada” (FREUD, v. 12, 1914, p. 201).

Ainda nesse texto, Freud desenvolve o conceito de elabora-
ção que seria uma forma de lidar com a resistência, prove-
niente da repetição não simbolizada. Ao repetir por atua-
ção, o paciente rememora eventos e reproduz situações não
mediadas pela linguagem. Ao ser capaz de simbolizar um
evento ocorrido por atuação, o paciente poderia elaborar a
lembrança ou a repetição de forma simbólica, propician-
do articulações com outras ideias inconscientes, ou seja, o
afeto que está sendo utilizado com a resistência é ligado a
outros significantes.

68 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 61-71, 2018
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