Page 80 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaO corpo no circuito pulsional

ficado, apontando que se os efeitos de significado não tem
nada a ver com aquilo que os causa, é porque sua causali-
dade tem certa relação com o real. Há uma lacuna entre as
causas e seus efeitos. Patrick Valas (2001) diz ser no nível
da pulsão que se opera a composição entre o significante
e o gozo, e que Lacan explica o aparelhamento do gozo na
linguagem com sua definição de gozo fálico. Para dizer da
causalidade significante desse gozo, Valas declina as cate-
gorias aristotélicas da causa:

O significante é causa material do gozo, pois o corpo, por
ser colonizado pelo significante se torna substância gozante
(...). O significante é causa formal do gozo, na medida em
que é a ordem da gramática que o comanda, por exemplo,
no movimento de reversão da pulsão (...). O significante é
causa eficiente do gozo. O gozo é proibido pelo significante
para aquele que fala como tal (...). O significante é causa
final do gozo, na medida em que a finalidade da língua (ou
da alingua) está no gozar (VALAS, 2001, p. 64).

Eu não me deixo comer: é a pulsão em seu movimento de
reversão, que segundo Patrick Valas (2001) comporta a voz
média ativa que Lacan traduz por fazer-se ver, ouvir, co-
mer. Vemos aí que, no vai e vem fundamental da pulsão,
em seu movimento de contornar o objeto para encontrar
sua satisfação nas zonas erógenas, o sujeito é ativo. O que
aparece no circuito da pulsão, quando ela contorna o objeto
e retorna à sua origem, é um sujeito, que é propriamente o
outro. “É somente com sua aparição no nível do outro que
pode ser realizado o que é a função da pulsão” (LACAN,
1964, p. 168).

80 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 73-83, 2018
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