Page 43 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Ana Maria Fabrino Favato

tudo aquilo que pertence ao campo da expressão das emo- A economia pulsional, o gozo e sua lógica
ções foi perdido com o uso da fala.

A dimensão do Outro, presente na experiência com a lin-
guagem, é sempre de estranhamento e de angústia pela
presença do objeto que escapa à articulação significante e
que nunca pode ser apreendido. Por isso, para Freud, “todo
afeto é apenas uma reminiscência de um acontecimento”
ou, indo no mesmo sentido, “o núcleo de um afeto é a re-
petição de alguma vivência significativa” (FREUD, 1925,
p. 103). A vivência de um afeto, ou melhor, da angústia é,
portanto, sempre um acontecimento de real que se repete.
Esse resíduo não apreendido do corpo vem manifestar-se
no lugar previsto para a fala de um modo às vezes difícil
de situar. Os ataques histéricos ou as vivências de angústia
de um sujeito são revivescências desses acontecimentos do
real. O que passa pelo real do corpo da histérica é restaura-
do pela via da linguagem. Freud descreve: “A histeria está
certa em restaurar o significado original das palavras ao re-
tratar suas inervações inusitadamente fortes” (BREUER;
FREUD, 1893, p. 231). Mas ele conclui que é errado dizer
que a histeria cria essas sensações através da simbolização.
Ela não toma o uso da língua como modelo; tanto a histeria
quanto o uso da língua extraem seu material de uma fonte
comum: o real do corpo, a fonte somática, a zona erógena,
o real impossível. É a saída que o falante tem diante da pul-
são.

Como declara Lacan (1964), a entrada da pulsão no hu-
mano é traumática. A pulsão é o próprio desassossego, ela

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 39-49, 2018 43
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