Page 41 - Revista ATO Ano 4 N 4
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Ana Maria Fabrino Favato
da do sujeito ao fato que provocou a emoção. Essa “reação” A economia pulsional, o gozo e sua lógica
indica atos nos quais as emoções são descarregadas e que
vão das lágrimas a atos de vingança. “Desabafar através do
pranto”, “desafogar através de um acesso de cólera”, tudo
isso são usos linguísticos que fazemos para expressar esse
estado de coisa. Caso o sujeito reprima a ação, a emoção
permanece vinculada à lembrança. Conclui que uma ofen-
sa que tenha sido revidada, inclusive com o uso da palavra,
é recordada de forma bem diferente daquela que foi aceita
ou “engolida goela abaixo”, como costumamos dizer. Uma
paciente relata, em análise, uma fala da mãe, dita quando
jovem e que reverbera em seu corpo por anos: Você não dá
para ser uma jornalista, não tem uma boa aparência para
isso. Desde então, essa paciente só se faz desaparecer. Ou-
tra paciente relata também que sua mãe lhe havia dito que
era uma criança indesejada, e que, por isso, ela deveria ter
feito um aborto. Esse objeto morto, caído, para a paciente,
sempre retorna na angústia.
Freud (1893) esclarece que a linguagem descreve uma 41
injúria sofrida em silêncio como “uma mortificação” –
Kränkung –, literalmente, “fazendo adoecer”. Portanto, a
reação adequada em relação ao trauma somente exerce um
efeito inteiramente “catártico” se for pela via da ab-reação,
da vingança, melhor dizendo, da descarga verbal, para fora
(ab) da carga emocional intolerável. Podemos dizer da ca-
tarse como um esvaziamento, não no sentido apenas de co-
locar para fora, mas de colocar o vazio e, da vingança, como
algo que deu certo, que vingou, que teve êxito. A palavra
alemã para vingança, usada por Freud, é rache, que tem o
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 39-49, 2018
da do sujeito ao fato que provocou a emoção. Essa “reação” A economia pulsional, o gozo e sua lógica
indica atos nos quais as emoções são descarregadas e que
vão das lágrimas a atos de vingança. “Desabafar através do
pranto”, “desafogar através de um acesso de cólera”, tudo
isso são usos linguísticos que fazemos para expressar esse
estado de coisa. Caso o sujeito reprima a ação, a emoção
permanece vinculada à lembrança. Conclui que uma ofen-
sa que tenha sido revidada, inclusive com o uso da palavra,
é recordada de forma bem diferente daquela que foi aceita
ou “engolida goela abaixo”, como costumamos dizer. Uma
paciente relata, em análise, uma fala da mãe, dita quando
jovem e que reverbera em seu corpo por anos: Você não dá
para ser uma jornalista, não tem uma boa aparência para
isso. Desde então, essa paciente só se faz desaparecer. Ou-
tra paciente relata também que sua mãe lhe havia dito que
era uma criança indesejada, e que, por isso, ela deveria ter
feito um aborto. Esse objeto morto, caído, para a paciente,
sempre retorna na angústia.
Freud (1893) esclarece que a linguagem descreve uma 41
injúria sofrida em silêncio como “uma mortificação” –
Kränkung –, literalmente, “fazendo adoecer”. Portanto, a
reação adequada em relação ao trauma somente exerce um
efeito inteiramente “catártico” se for pela via da ab-reação,
da vingança, melhor dizendo, da descarga verbal, para fora
(ab) da carga emocional intolerável. Podemos dizer da ca-
tarse como um esvaziamento, não no sentido apenas de co-
locar para fora, mas de colocar o vazio e, da vingança, como
algo que deu certo, que vingou, que teve êxito. A palavra
alemã para vingança, usada por Freud, é rache, que tem o
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 39-49, 2018