Page 46 - Revista ATO Ano 4 N 4
P. 46
A economia pulsional, o gozo e sua lógicaO que se perde no nível da pulsão
do balanço das contas e que, no fim, pede a libra de carne –
creio que vocês sabem o que estou citando. É essa a marca
que vocês sempre encontrarão no que é acting out (LACAN,
1962-1963, p.139).
A libra de carne é uma medida que traz o sacrifício, e Anto-
nio aceita a demanda “mais, ainda”, en corps, identificado
como está ao objeto caído em busca de punição e não teme
a morte. “Eu sou a ovelha doente do rebanho, e, portanto, a
escolhida para a morte; o fruto mais fraco é o que primeiro
cai no chão; que assim me aconteça a mim” (SHAKES-
PEARE, 1956, p. 138).
Shylock, por sua vez, tomado pela vingança responde tam-
bém a partir de seu sacrifício, de seu gozo.
Perguntais-me por que razão prefiro eu uma libra de carne
podre aos meus ducados; para essa pergunta só tenho uma
resposta: a minha vontade. Não vos parece boa tal resposta?
Se um rato perturba a minha casa, e se me meter na cabeça
dar dez mil ducados para o envenenar, tem alguém alguma
coisa com isso? (...) Há quem não goste de ouvir berrar um
porco; há quem, vendo um gato, tenha um ataque de lou-
cura e há também gente que não pode ouvir uma gaita-de-
foles perto de si, sem que sinta vontade de urinar; a nossa
sensibilidade, soberana das nossas paixões, dita-lhes do que
devem gostar e detestar. (...) não posso dar outra razão e não
quero dar outra senão esta: nutro por Antonio um ódio tão
fixo, uma aversão tão absoluta que me vejo forçado a inten-
tar contra ele um processo ruinoso para mim (SHAKES-
PEARE, 1956, p. 133).
A libra de carne entra como moeda no circuito pulsional a
ser retirada de um corpo reduzido, nesse ponto, à sua fun-
46 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 39-49, 2018
do balanço das contas e que, no fim, pede a libra de carne –
creio que vocês sabem o que estou citando. É essa a marca
que vocês sempre encontrarão no que é acting out (LACAN,
1962-1963, p.139).
A libra de carne é uma medida que traz o sacrifício, e Anto-
nio aceita a demanda “mais, ainda”, en corps, identificado
como está ao objeto caído em busca de punição e não teme
a morte. “Eu sou a ovelha doente do rebanho, e, portanto, a
escolhida para a morte; o fruto mais fraco é o que primeiro
cai no chão; que assim me aconteça a mim” (SHAKES-
PEARE, 1956, p. 138).
Shylock, por sua vez, tomado pela vingança responde tam-
bém a partir de seu sacrifício, de seu gozo.
Perguntais-me por que razão prefiro eu uma libra de carne
podre aos meus ducados; para essa pergunta só tenho uma
resposta: a minha vontade. Não vos parece boa tal resposta?
Se um rato perturba a minha casa, e se me meter na cabeça
dar dez mil ducados para o envenenar, tem alguém alguma
coisa com isso? (...) Há quem não goste de ouvir berrar um
porco; há quem, vendo um gato, tenha um ataque de lou-
cura e há também gente que não pode ouvir uma gaita-de-
foles perto de si, sem que sinta vontade de urinar; a nossa
sensibilidade, soberana das nossas paixões, dita-lhes do que
devem gostar e detestar. (...) não posso dar outra razão e não
quero dar outra senão esta: nutro por Antonio um ódio tão
fixo, uma aversão tão absoluta que me vejo forçado a inten-
tar contra ele um processo ruinoso para mim (SHAKES-
PEARE, 1956, p. 133).
A libra de carne entra como moeda no circuito pulsional a
ser retirada de um corpo reduzido, nesse ponto, à sua fun-
46 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 39-49, 2018
