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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaA clínica com a criança

prazer causado pela palavra endereçada, nem pela pulsão
lançada ao entorno do objeto a. Não há perda do gozo vis-
to que o gozo não está destacado do corpo, por não haver
extração do objeto a. Reconhecemos isso no gozo dito au-
tístico, fechado em si, quando a criança se satisfaz em girar
em torno de si, nos movimentos estereotipados de mãos,
no gozo de fala ininteligível que descarta o outro.

Se pensarmos na psicose, nela há a dimensão do Outro e
do outro inscrita. Contudo, há a foraclusão do significante
do Nome-do-Pai, ou seja, para esse sujeito não há algo que
ordene a cadeia de significantes, não regulando o gozo des-
vairado que o invade, gozo do Outro. O psicótico permane-
ce identificado ao objeto de gozo, não havendo mediação
simbólica.

Poderíamos pensar – na distinção entre psicose e autismo
– que, na psicose, o Outro é absoluto e existe, está presente
nas alucinações e delírios, como vemos no “Caso Schre-
ber” (FREUD, 1911) e, que, no autismo o Outro inexiste,
por exemplo, quando as crianças decididamente não olham
o outro apesar de serem convidadas à relação.

Assim, a relação do sujeito com o Outro, na Psicose, passa-
ria por um Outro que existe, consistente. Esse se faz “pre-
sente” por meio das sensações de perseguição, de intrusão
e de despersonalização – quando se deixa de ter uma ima-
gem unificada, constituída a partir do Estádio do Espelho,
conceito formulado por Lacan (1949). O gozo, na psicose,

130 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 121-137, 2018
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