Page 61 - Revista Ato_Ano_2_n_1
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Barbara Guatimosim
Para Blanchot, é nessa região que erra o topógrafo
d‘O castelo, que desde o começo está —”fora do alcance da
salvação, pertence ao exílio, esse lugar onde não só não está
em sua casa, mas está fora de si.” (BLANCHOT, idem, p.
72.)
A terra de erro em que Kafka vagueia deixa-o
fora do mundo, onde ele se sente “apenas flutuando em
algum limbo.” (Carta a Felix Weltsch de 10/1913. In:
KAFKA. Cartas aos meus amigos, p. 26). Uma condição
zumbi, nem morto, nem vivo, que o faz pensar na morte
como uma redenção. Esta fantasia de renascer ao cabo
de um banimento absoluto prolifera nos escritos, o que
alguns vêem como alusão à mentepsicose cabalística:
(BLANCHOT, 1987, p. 65 [nota]). “Se existe uma
transmigração das almas, então eu não me encontro ainda
no último degrau (unterstenStufe).” (KAFKA. Diários,
Difel, 24/01/1922, p. 360). Mas nessa fantasia vemos bem
mais a esperrânsia de uma segunda morte, morte que lhe Angústia
traga a chance de uma outra vida.
Mas se a segunda morte tão ansiada não lhe vem
em socorro, melhor contar com a primeira. Kafka cortejou-a
por muito tempo. Depois do fracasso de seus dois noivados
no afã de unir-se a uma mulher e formar uma família, sem
conseguir afirmar-se como homem e escritor, desabafa
com seu amigo Max Brod: “— Por que tantas paradas na
estrada para a morte? Por que leva tanto tempo?” (Kafka
em lamento a Brod apud PAWEL. O pesadelo da razão, p.
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 59-68, 2016 61
Para Blanchot, é nessa região que erra o topógrafo
d‘O castelo, que desde o começo está —”fora do alcance da
salvação, pertence ao exílio, esse lugar onde não só não está
em sua casa, mas está fora de si.” (BLANCHOT, idem, p.
72.)
A terra de erro em que Kafka vagueia deixa-o
fora do mundo, onde ele se sente “apenas flutuando em
algum limbo.” (Carta a Felix Weltsch de 10/1913. In:
KAFKA. Cartas aos meus amigos, p. 26). Uma condição
zumbi, nem morto, nem vivo, que o faz pensar na morte
como uma redenção. Esta fantasia de renascer ao cabo
de um banimento absoluto prolifera nos escritos, o que
alguns vêem como alusão à mentepsicose cabalística:
(BLANCHOT, 1987, p. 65 [nota]). “Se existe uma
transmigração das almas, então eu não me encontro ainda
no último degrau (unterstenStufe).” (KAFKA. Diários,
Difel, 24/01/1922, p. 360). Mas nessa fantasia vemos bem
mais a esperrânsia de uma segunda morte, morte que lhe Angústia
traga a chance de uma outra vida.
Mas se a segunda morte tão ansiada não lhe vem
em socorro, melhor contar com a primeira. Kafka cortejou-a
por muito tempo. Depois do fracasso de seus dois noivados
no afã de unir-se a uma mulher e formar uma família, sem
conseguir afirmar-se como homem e escritor, desabafa
com seu amigo Max Brod: “— Por que tantas paradas na
estrada para a morte? Por que leva tanto tempo?” (Kafka
em lamento a Brod apud PAWEL. O pesadelo da razão, p.
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 59-68, 2016 61