Page 197 - revista_ato (1)
P. 197
Márcia Regina de Mesquita, Marcilena Assis Toledo e Paula Melgaço efeitos da transmissão

a formação psicanalítica: fundamentos teóricos; a clínica e
a supervisão; e a própria análise, por ser desse tripé que o
analista se vale para se manter no lugar de objeto causa de
desejo, possibilitando o surgimento do sujeito dividido.

Conforme nos ensina Miranda (2013), os
professores muitas vezes desafiam o suposto saber e tentam
colocar o analista no lugar do mestre, ou seja, daquele que
dá soluções prontas e generalistas. Assim, um dos grandes
desafios que cabe ao analista é tentar manter a posição de
não saber. Ainda que seja convocado a dar soluções rápidas
que excluam a palavra e o saber que cada um inventa.

Essa experiência de “inclusão” do analista no
lugar do mestre é vivida pelos participantes do laboratório,
em três instituições de ensino. Os educadores esperam, na
entrevista de devolução, que os profissionais falem sobre o
que fazer e como fazer, seja com os adolescentes que não
corespondem ao ideal da escola, seja com os professores
às voltas com suas questões e desafios vividos no campo da
educação. Os participantes do laboratório não ocuparam
esse lugar de saber, não respondendo às demandas, mas
apontando para a implicação de cada um dos professores
frente ao que se apresenta como sintoma. Em resposta, os
professores afirmaram que há diferença em estar com os
adolescentes esporadicamente, como ocorre nas Conver-
sações, e em estar com eles durante todo o ano letivo.

Em todas as experiências, os adolescentes “pro-
blemas” e os adolescentes “infratores” eram, tanto para a

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 191-200, 2015 197
   192   193   194   195   196   197   198   199   200   201   202