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Márcia Regina de Mesquita, Marcilena Assis Toledo e Paula Melgaço efeitos da transmissão

Por tudo isso, no primeiro semestre os profis-
sionais do laboratório tropeçaram em embaraços que os
convocam a pensar sobre seu desejo e o lugar que ocupam
na condução das Conversações que, em alguns momen-
tos, pareciam fazer uso de um discurso pedagógico. Isso
se dava, mesmo levando em consideração a compreensão
dos profissionais da não utilização de um roteiro defini-
do, conhecido ou predeterminado para a condução das
Conversações; de não se ocupar de normas e de seus en-
quadramentos. Afinal, o lugar do analista não passa pela
compreensão ou por técnicas didáticas e sim pela sua es-
cuta do que se refere ao inconsciente do sujeito. O analista,
ao lançar mão do dispositivo da Conversação, está ali para
apreender o real tal como ele se apresenta para os adoles-
centes ou para os docentes, sem uma pretensão de conce-
bê-lo como verdade única, mas com a intenção de conhe-
cer como adolescentes e professores vivem o seu tempo
(MIRANDA; VASCONCELOS; SANTIAGO, 2006, p. 2).

Ana Lydia Santiago nos orienta a construir junto
ao grupo um saber sobre aquilo que está subentendido e se
apresenta como mal-estar no espaço escolar. Ofertar o lu-
gar da palavra, acolhendo-a, favorecendo o aparecimento do
singular de cada um. Cabe aos profissionais que conduzem
as Conversações, manter uma posição do saber-não saber.
Esse é o seu ponto primordial para propiciar, na institui-
ção escolar, uma possível mudança através da Conversação,
considerando que o saber constituído é o que se impõe na

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