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efeitos da transmissãoA conversação nas escolas e o desejo do analista

instituição de ensino. Por muitas vezes, trata-se de uma
imposição “pesada” tanto para os adolescentes como para
os professores e também para os gestores. Sendo assim, a
nossa entrada na escola talvez possibilite a abertura de um
lugar para o vazio onde a palavra circule. E com a escuta
do analista se favoreça um tratamento para o real invasivo.
Bordejar o real dando a ele um tratamento pelo simbólico,
abrindo espaço para que o sujeito desconstrua o peso das
identificações do campo do Outro, possibilitando uma tor-
ção no posicionamento do sujeito frente às contingências.

Nas Conversações realizadas em algumas
escolas municipais de Belo Horizonte e de Pouso Alegre, foi
possível escutar professores que dizem de seu mal-estar ao
se depararem com os “adolescentes de liberdade assistida”7
na sala de aula. Quando uma professora nos indaga sobre
a utilidade de nossa pesquisa e das Conversações, dizendo
que “ficar só na conversa não adianta nada”, nos deparamos
com uma demanda por um saber sobre o real que angustia
os educadores. Lacan (2005), no Seminário da Angústia,
nos aponta como norte para o manejo clínico a necessidade
de um balizamento para assinalar o que o sujeito suporta
de sua angústia e como o analista se posiciona diante dela.
Posicionamento que nos remete ao tripé indispensável para

7 Cabe ressaltar que os professores nomeiam como “adolescente de liberdade
assistida” todos os adolescentes que consideram estar em conflito com a
lei, mesmo que não haja nenhuma determinação judicial que determine o
cumprimento de uma medida socioeducativa.

196 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 191-200, 2015
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