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Wagner Bernardes angústia, nominação real

O recalque, modelo da defesa neurótica, inibe a moção
pulsional perigosa, mas, simultaneamente, concede às
pulsões do isso uma porção de soberania e independência
sobre o eu. Disso resulta que o sinal de angústia emitido
pelo eu, por ocasião do recalque, mostrar-se-á ineficaz,
pois a moção pulsional seguirá seu próprio curso, sob a
influência da compulsão à repetição.

Faz-se necessário, nesse ponto, discernir
“situação de perigo” de “situação traumática”.  Conforme
Freud, tem-se um progresso quando se pode, por meio do
sinal de angústia emitido na situação de perigo, prevenir a
situação traumática de desamparo. O eu, que inicialmente
vivenciou passivamente o trauma, pode agora repetir, de
modo ativo, uma reprodução atenuada dele. Por isso, o
decisivo é o primeiro deslocamento da reação de angústia
traumática de desamparo para a sua expectativa, a situação
de perigo anunciada.

Novo progresso? Pelo contrário, pois se, por um
lado, o objeto convocado constitui-se como proteção contra
todas as situações de desamparo vividas pela criança de colo,
por outro, não há como escapar da seguinte observação de
Freud, no tocante à ação deletéria do objeto: “‘estragar com
mimos’  uma criancinha3 tem a indesejável consequência

3 Na edição argentina encontra-se “malcriar”  uma criancinha , ao passo 115
que na Edição standard brasileira (FREUD, v. 20, 1976, p. 192) lê-se “es-
tragar”  uma criancinha. Freud (Gesammelte  Werke,  v.XIV, 1999, p. 200),
na passagem citada, emprega o substantivo Verwöhnung  (mimo). O ver-

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 111-120, 2015
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