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angústia, nominação realPerigo e trauma: a questão do objeto na angústia

de angústia para a sua reprodução deliberada, como sinal
de perigo a ser evitado. Perguntamos: há adequação e
vantagem nesse avanço?

Pois bem, no encalço da situação de perigo,
Freud introduz outra variante ao destacar que, na mulher,
a perda do amor do objeto conta mais que a sua ausência
ou perda real. Nesse caso, é a própria presença do objeto
que se impõe como angustiante e se coloca no centro da
situação de perigo. O objeto convocado lá está, mas não dá
qualquer garantia de seu amor. Abre-se o campo do desejo.
O sujeito, por sua vez, fica à mercê dos caprichos do objeto
amado.

Freud observa que a pessoa amada não nos
subtrairia seu amor, nem nos ameaçaria com a castra-
ção,  “se  em nosso interior não alimentássemos determi-
nados sentimentos ou propósitos” (FREUD, v. 20, 1996, p.
137). O que está em jogo, agora, é um perigo pulsional, que
parte do próprio sujeito. As moções pulsionais, perigosas
elas mesmas, passam a ser, também, “a  condição do pe-
rigo exterior” (FREUD, v. 20, 1996, p. 137). É, em última
instância, contra elas que se deve defender. Tratar-se-
ia, aqui, de um perigo passível de ser evitado ou de uma
intrusão que deixaria o sujeito sem recursos?

Seja como for, Freud destaca que no neurótico
as reações frente ao perigo são desmedidas, sendo que
a sua condição de adulto não oferece proteção contra o
retorno da situação de angústia traumática e originária.

114 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 111-120, 2015
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