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Wagner Bernardes angústia, nominação real
20, 1996, p. 130). Isso porque, no início, não há objeto
discernível. A criança pequena anseia apenas por algo que
satisfaça as suas necessidades, sem delongas. A situação
valorizada por ela como “perigo” é simplesmente a da
insatisfação que, com o aumento da tensão de necessidade,
a deixa impotente. Como no ato do nascimento, a desordem
econômica que invade o neonato constitui “o núcleo genuíno
do ‘perigo’” (FREUD, v. 20, 1996, p. 130).
A reação angustiada do bebê alerta a mãe, através
do choro e do grito, para a realização da ação específica. O
que se apresenta como absolutamente invasivo e caótico
na criança imatura tem, entretanto, valor de sinal para o
outro experiente, que lhe vem em socorro. Freud afirma,
categórico: “A criança não precisaguardar de seu nascimento
nada além dessa caracterização do perigo” (FREUD, v. 20,
1996, p. 130).
No entanto, a experiência repetida de que um
objeto externo põe fim à situação perigosa que evoca o
nascimento faz com que o perigo se desloque da mera si-
tuação econômica para uma outra circunstância, a perda
do objeto. A ausência da mãe torna-se, agora, o perigo. O
lactente dará o sinal de angústia tão logo o novo perigo se
avizinhe e antes mesmo que a situação econômica desas-
trosa se instale.
Tal deslocamento representa, segundo Freud,
um passo importante no sentido da autopreservação, bem
como compreende a transição da produção involuntária
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 111-120, 2015 113
20, 1996, p. 130). Isso porque, no início, não há objeto
discernível. A criança pequena anseia apenas por algo que
satisfaça as suas necessidades, sem delongas. A situação
valorizada por ela como “perigo” é simplesmente a da
insatisfação que, com o aumento da tensão de necessidade,
a deixa impotente. Como no ato do nascimento, a desordem
econômica que invade o neonato constitui “o núcleo genuíno
do ‘perigo’” (FREUD, v. 20, 1996, p. 130).
A reação angustiada do bebê alerta a mãe, através
do choro e do grito, para a realização da ação específica. O
que se apresenta como absolutamente invasivo e caótico
na criança imatura tem, entretanto, valor de sinal para o
outro experiente, que lhe vem em socorro. Freud afirma,
categórico: “A criança não precisaguardar de seu nascimento
nada além dessa caracterização do perigo” (FREUD, v. 20,
1996, p. 130).
No entanto, a experiência repetida de que um
objeto externo põe fim à situação perigosa que evoca o
nascimento faz com que o perigo se desloque da mera si-
tuação econômica para uma outra circunstância, a perda
do objeto. A ausência da mãe torna-se, agora, o perigo. O
lactente dará o sinal de angústia tão logo o novo perigo se
avizinhe e antes mesmo que a situação econômica desas-
trosa se instale.
Tal deslocamento representa, segundo Freud,
um passo importante no sentido da autopreservação, bem
como compreende a transição da produção involuntária
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 111-120, 2015 113