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Wagner Bernardes angústia, nominação real
deve ser dominado, ligado psiquicamente. A execução
dessa tarefa retira energia de todas as partes do aparelho
para criar, em torno da ferida, um investimento energético
de nível correspondente, ou seja, um contrainvestimento.
É gerado um elevado investimento narcisista na parte
danificada do corpo.
Freud destaca que a linguagem criou o conceito
de dor interior, da alma, “equiparando inteiramente as
sensações da perda de objeto à dor corporal” (FREUD, v.
20, 1996, p. 159). Pois bem, uma intensa carga de anseio
pelo objeto ausente, em contínuo crescimento devido a seu
caráter inarredável, “cria as mesmas condições econômicas
que o investimento de dor do lugar ferido do corpo” (FREUD,
v. 20, 1996, p. 160). Assim, a transição da dor corporal para
a dor anímica “corresponde à mudança do investimento
narcisista para o investimento de objeto” (FREUD, v. 20,
1996, p.160), sendo que a representação-objeto, fortemente
carregada, passa a ter papel semelhante ao do corpo ferido
e investido com excesso de estímulo.
Essa difícil passagem é esclarecida em “Esque-
ma da psicanálise”, texto no qual Freud afirma que o seio
materno, primeiro objeto erótico, não é, em princípio, dis-
tinto do próprio corpo do bebê. Quando o seio “tem que ser
separado do corpo, trasladado para ‘fora’ devido à frequên-
cia com que a criança sente falta dele, leva consigo, como
‘objeto’, uma parte do investimento libidinal originalmente
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 111-120, 2015 117
deve ser dominado, ligado psiquicamente. A execução
dessa tarefa retira energia de todas as partes do aparelho
para criar, em torno da ferida, um investimento energético
de nível correspondente, ou seja, um contrainvestimento.
É gerado um elevado investimento narcisista na parte
danificada do corpo.
Freud destaca que a linguagem criou o conceito
de dor interior, da alma, “equiparando inteiramente as
sensações da perda de objeto à dor corporal” (FREUD, v.
20, 1996, p. 159). Pois bem, uma intensa carga de anseio
pelo objeto ausente, em contínuo crescimento devido a seu
caráter inarredável, “cria as mesmas condições econômicas
que o investimento de dor do lugar ferido do corpo” (FREUD,
v. 20, 1996, p. 160). Assim, a transição da dor corporal para
a dor anímica “corresponde à mudança do investimento
narcisista para o investimento de objeto” (FREUD, v. 20,
1996, p.160), sendo que a representação-objeto, fortemente
carregada, passa a ter papel semelhante ao do corpo ferido
e investido com excesso de estímulo.
Essa difícil passagem é esclarecida em “Esque-
ma da psicanálise”, texto no qual Freud afirma que o seio
materno, primeiro objeto erótico, não é, em princípio, dis-
tinto do próprio corpo do bebê. Quando o seio “tem que ser
separado do corpo, trasladado para ‘fora’ devido à frequên-
cia com que a criança sente falta dele, leva consigo, como
‘objeto’, uma parte do investimento libidinal originalmente
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 111-120, 2015 117