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angústia, nominação realPerigo e trauma: a questão do objeto na angústia

narcisista” (FREUD, v. 23, 1996, p. 188). Ou seja, quando
o objeto ansiado falta, o bebê é, digamos assim, arrancado
de si mesmo.

O trabalho de luto, contudo, exige a radical
separação do objeto, devendo levá-la a cabo justo nas
situações em que este era mais fortemente investido.
Seu caráter doloroso deve-se à enorme carga de anseio
pelo objeto, impossível de ser satisfeita. Parece, assim,
que a dificuldade de se fazer o luto pelo objeto amado
deve-se muito menos à falta do objeto perdido do que
ao  excesso  que dele fica no sujeito. Ao fim do doloroso
trabalho de luto talvez o sujeito se encontre livre do objeto,
causa de sua angústia, para, enfim, reconciliar-se com a
sua dor primeira, a dor de existir4, princípio de sua entrada
no mundo.

4 Expressão usada por Lacan no texto “Kant com Sade”.
118 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 111-120, 2015
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