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Raul Macedo Ribeiro Angústia

da palavra ouvida. Freud observa: “Os resíduos verbais
derivam essencialmente de percepções acústicas, de modo
que ao sistema Pcs é dada como que uma origem sensorial
especial” (FREUD, 2011, p. 25).

Há, pois, no surgimento da angústia sinal um
pensamento apoiado em palavras, em contraposição ao
pensamento do processo primário que é fundamentalmente
apoiado em imagens. É a tradução em palavras, “entre
montantes de energias num substrato inimaginável”, o que
propicia o surgimento da angústia como sinalizadora de
um perigo. Sinal, portanto, situado no campo da linguagem
apalavrada.

“Por um Resgate do Pré-Consciente”, bem
poderia ser esse o título deste escrito. O Pré-consciente, tal
como foi formulado por Freud, é, por excelência, o campo da
enunciação, ou seja, o campo em devir do pensamento que
se forja em palavras. É, pois, nesse campo que recebemos
os nossos pacientes e os tratamos. É nele que se desenvolve
cada sessão analítica. Isso se o analista se comportar bem,
ou seja, se se abstiver de impor o enunciado ao setting
analítico para deixar lugar ao movimento oscilante da
enunciação tricotada pelo analisante.

A propósito, no seminário Os quatros conceitos
fundamentais da psicanálise, Lacan observa: “Na pulsão,
não se trata de modo algum de energia cinética, não se trata
de algo que vai se regrar pelo movimento. A descarga em

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 49-58, 2016 55
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