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AngústiaNotas freudianas sobre o desejo de dormir, o desejo de sonhar e a angústia

e, portanto, cenário onde se desenvolve a sessão
analítica.

Palavras-chave: pulsão, processo primário, pré-
consciente, angústia sinal, enunciação.

Adélia Prado fez um singelíssimo poema e o
denominou Exausto. O poema diz o seguinte:

Eu quero uma licença de dormir,
perdão para descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar,
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado
Semente.

Muito mais que raízes.

(PRADO, 1982, pg.35)

Freud, muito antes de Adélia, escreveu sobre o
desejo de dormir e sobre o desejo de sonhar. Embora o
desejo de dormir aspire, tal como o poema de Adélia, a uma
reclusão total do mundo, ou seja, aspire a uma retomada
narcísica absoluta, o que ocorre, no entanto, é o surgimento
do sonho atestando a impossibilidade de se alcançar a
graça de um estado semente. No artigo Complemento
Metapsicológico à teoria dos sonhos, Freud sublinhou: “Já
de início, portanto, o narcisismo do sono teve que admitir
uma exceção, e com ela principia a formação do sonho”
(FREUD, 2010, pag. 154-155).

50 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 49-58, 2016
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