Page 54 - Revista Ato_Ano_2_n_1
P. 54
AngústiaNotas freudianas sobre o desejo de dormir, o desejo de sonhar e a angústia

de tal momento – o que fará desencadear o mecanismo do
recalque. Freud escreve:

Se chamamos esse estado, no qual fracassam os esforços
do princípio do prazer, de momento traumático, então
chegamos, pela sequência angústia neurótica – angústia
realista – situação de perigo, à tese simples de que a coisa
temida, o objeto da angústia, é sempre a aparição de um
momento traumático que não pode ser liquidado segundo a
norma do princípio do prazer (FREUD, 2010, p. 239-240).

[...] Aquilo que se teme (na angústia neurótica) é,
evidentemente, a própria libido (FREUD, 2010, p. 228).

Sublinho outra primorosa observação retirada
da conferência Angústia e instintos. Freud observa que a
pressão pulsional inconsciente, que faz desencadear para
o Eu a angústia, se anuncia por meio de “um processo não
consciente ou pré-consciente que se dá entre montantes de
energias num substrato inimaginável” (FREUD, 2010, p.
235).

Tal observação nos chama a atenção para o
caráter fundamental dos elos verbais pré-conscientes que
comunicam ao Eu a ameaça pulsional, capaz de suscitar
o recalque e a angústia sinalizadora de perigo, o que
contraria a própria concepção freudiana de que os afetos
seriam diretamente conscientes ou inconscientes. Isso
porque, o afeto da angústia sinal não se evidenciaria, a não
ser por via da sensibilidade relativa ao Pré-consciente, ou
seja, a sensibilidade forjada a partir dos traços mnêmicos

54 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 49-58, 2016
   49   50   51   52   53   54   55   56   57   58   59