Page 53 - Revista Ato_Ano_2_n_1
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Raul Macedo Ribeiro Angústia
entre o consciente e o inconsciente, por serem os afetos
diretamente conscientes ou inconscientes. Adverte-nos,
porém, que é inapropriado referir-se aos sentimentos
como sendo inconscientes.
Julgo curiosa a denegação usada por Freud, ao
longo de quase toda a sua obra, a cada vez que ele utiliza a
expressão “sentimento inconsciente”, já que a utiliza para
em seguida afirmar que não é correta a aplicação do adjetivo
inconsciente aos sentimentos. Assim mesmo, ele continua
a afirmar a negação e a retomá-la seguidamente ao longo
de sua obra. Isso é curioso em se tratando do rigor com
que Freud conduz a construção conceitual psicanalítica.
Em 1933, nas Novas conferências introdutórias,
particularmente na Conferência XXXII - Angústia e
instintos, Freud menciona o avanço ocorrido em relação
à teoria da angústia, concebida inicialmente como uma
descarga libidinal que, ao romper as barreiras do recalque,
irromperia como afeto angustiante na superfície consciente
do Eu. Isso sem nenhuma intermediação do Pcs, ou seja,
sem nenhuma intermediação da wortvorstellung. Nessa
concepção, a libido represada adviria como angústia
justamente ao subverter o recalque (FREUD, 2010).
A torção conceitual em relação à teoria da
angústia ocorre na medida em que a angústia passa a
ser concebida como resultante de uma pressão libidinal
imperiosa – um momento traumático ou apenas a repetição
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 49-58, 2016 53
entre o consciente e o inconsciente, por serem os afetos
diretamente conscientes ou inconscientes. Adverte-nos,
porém, que é inapropriado referir-se aos sentimentos
como sendo inconscientes.
Julgo curiosa a denegação usada por Freud, ao
longo de quase toda a sua obra, a cada vez que ele utiliza a
expressão “sentimento inconsciente”, já que a utiliza para
em seguida afirmar que não é correta a aplicação do adjetivo
inconsciente aos sentimentos. Assim mesmo, ele continua
a afirmar a negação e a retomá-la seguidamente ao longo
de sua obra. Isso é curioso em se tratando do rigor com
que Freud conduz a construção conceitual psicanalítica.
Em 1933, nas Novas conferências introdutórias,
particularmente na Conferência XXXII - Angústia e
instintos, Freud menciona o avanço ocorrido em relação
à teoria da angústia, concebida inicialmente como uma
descarga libidinal que, ao romper as barreiras do recalque,
irromperia como afeto angustiante na superfície consciente
do Eu. Isso sem nenhuma intermediação do Pcs, ou seja,
sem nenhuma intermediação da wortvorstellung. Nessa
concepção, a libido represada adviria como angústia
justamente ao subverter o recalque (FREUD, 2010).
A torção conceitual em relação à teoria da
angústia ocorre na medida em que a angústia passa a
ser concebida como resultante de uma pressão libidinal
imperiosa – um momento traumático ou apenas a repetição
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Inibição, sintoma, angústia, Ano II n. 1, pp. 49-58, 2016 53