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Labibe Geralda Gil Alcon Mendes

Procuro vestígios do que sou
Busco a palavra que dê sentido
à dor que se instaurou
A palavra como isca
preenche, preenche,
preenche o vazio que se sente.

(Labibe Alcon, Ensimesmada.)

No cotidiano da clínica, o enigma do desejo sob angústia, nominação real
a forma do Che vuoi ? – O que o Outro quer de mim? –
comparece muitas vezes endereçado ao analista. Ao iniciar 41
sua análise, um paciente me diz: “Pois não?” Diante da
falta de resposta da analista ele diz: “Fiquei preocupado
em trazer algo relevante pra você”. Através dessa demanda
velada, o que o paciente traz é um não saber sobre o que a
analista quer dele.

Ainda no primeiro capítulo do Seminário
X, Lacan chama a atenção para a similaridade entre a
estrutura da angústia e a estrutura da fantasia. Lacan
diz: “(...) a estrutura da angústia, não está longe dela, em
razão de ser exatamente a mesma” (LACAN, 2005 p.12).
Diante desta afirmação surge uma questão: se ambas têm
a mesma estrutura, isto é, ambas dizem da relação do
sujeito com o objeto do desejo do Outro, o que acontece
para que surja angústia e não fantasia? Ou fantasia e não
angústia? A resposta concerne ao objeto. Na fantasia o
objeto se encontra velado, revestido. Enquanto na angústia

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 37-50, 2015
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