Page 45 - revista_ato (1)
P. 45
Labibe Geralda Gil Alcon Mendes
Esse resto corresponde ao falo como falta. A
imagem do falo aparece como uma lacuna para o sujeito,
na medida em que o falo “não é representado no nível do
imaginário, como é também... cortado da imagem especular”
(LACAN, 2005, p. 49). Como relacionar esse falo que falta
na imagem a essa lacuna que o autor designa por menos
phi ao objeto a? O a é um resíduo do real e, como tal,
não deriva da imagem especular. Paradoxalmente, Lacan
confessa que só pode imaginar esse objeto “no registro
especular” (LACAN, 2005, p. 50).
Freud utiliza-se da definição de Schelling:
“Unheimlich é o nome de tudo que deveria ter permanecido
secreto e oculto, e veio à luz” (FREUD, v. XVII, 1919-1996, angústia, nominação real
p. 281). Lacan irá reler o texto de Freud sobre o Unheimlich,
o estranho, mostrando que a sensação e a angústia que ele
causa estão relacionadas à proximidade do objeto, quando
no familiar acha-se insinuada a presença da Coisa e do
estranho. Dito de outro modo, o momento do aparecimento
da angústia, nos diz Lacan, é aquele em que alguma coisa,
uma coisa qualquer, aparece no lugar representado por
menos phi. Quando aquele lugar destinado a uma ausência
aparece preenchido. Segundo Lacan, é quando a falta vem
a faltar, isto é, quando o Unheimlich e o objeto a parecem
confundir-se. A natureza peculiar da estranheza desta
aparição, portanto, diz respeito ao que há de estranho e
irreconhecível naquilo que é familiar, fórmula análoga
à aparição de a no lugar de menos phi. “É através dessa 45
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 37-50, 2015
Esse resto corresponde ao falo como falta. A
imagem do falo aparece como uma lacuna para o sujeito,
na medida em que o falo “não é representado no nível do
imaginário, como é também... cortado da imagem especular”
(LACAN, 2005, p. 49). Como relacionar esse falo que falta
na imagem a essa lacuna que o autor designa por menos
phi ao objeto a? O a é um resíduo do real e, como tal,
não deriva da imagem especular. Paradoxalmente, Lacan
confessa que só pode imaginar esse objeto “no registro
especular” (LACAN, 2005, p. 50).
Freud utiliza-se da definição de Schelling:
“Unheimlich é o nome de tudo que deveria ter permanecido
secreto e oculto, e veio à luz” (FREUD, v. XVII, 1919-1996, angústia, nominação real
p. 281). Lacan irá reler o texto de Freud sobre o Unheimlich,
o estranho, mostrando que a sensação e a angústia que ele
causa estão relacionadas à proximidade do objeto, quando
no familiar acha-se insinuada a presença da Coisa e do
estranho. Dito de outro modo, o momento do aparecimento
da angústia, nos diz Lacan, é aquele em que alguma coisa,
uma coisa qualquer, aparece no lugar representado por
menos phi. Quando aquele lugar destinado a uma ausência
aparece preenchido. Segundo Lacan, é quando a falta vem
a faltar, isto é, quando o Unheimlich e o objeto a parecem
confundir-se. A natureza peculiar da estranheza desta
aparição, portanto, diz respeito ao que há de estranho e
irreconhecível naquilo que é familiar, fórmula análoga
à aparição de a no lugar de menos phi. “É através dessa 45
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 37-50, 2015