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efeitos da transmissãoA turma do boi
indiretamente esse lugar fixo, dentro de sua família. O que
a levava a ser invadida por um gozo insuportável, fora dos
limites fálicos. Daí o alívio pela droga, real contra real.
Pois bem, durante esses anos de tratamento,
todos os três continuaram com o uso de uma droga
de substituição, a metadona, para evitar os sintomas
de abstinência do opioide, além de medicamentos
antidepressivos, antipsicóticos e outros. O uso do boi está
ausente ou em lapsos esporádicos para o “homemdacasa”
e para o “ninguémligapramim”. O “tudobem” não usa
mais xaropes. O “ninguémligapramim”, de um lugar de
demandar apenas receitas ao analista, e nunca ter sido
dejetado por este, um dia aceita a questão colocada:
“o que vai fazer com o ‘ninguémligapramim’ além de
usar o xarope?” Uma resposta diferente foi uma maior
responsabilização por sua pessoa, se afastar de usuários
de xarope e sustentar uma profissão que, apesar de estar
mudando sempre, proporciona um ganho financeiro que
permite sua sobrevivência. E além disso alguma aceitação
familiar. Para o “tudobem”, quando interrogo a cada sessão
“tudo bem?”, isso lhe permite aceitar e falar de muitas coisas
que não estão bem em sua família e de como ele é levado
a ocupar o lugar de droga. Isso possibilita também alguma
responsabilização por parte do sujeito pela manutenção
desta situação, o que lhe permite tentar sair desse lugar de
objeto, através do retorno aos estudos, mesmo sem o apoio
dos pais, com vistas a tentar, através de uma profissão, um
186 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 179-189, 2015
indiretamente esse lugar fixo, dentro de sua família. O que
a levava a ser invadida por um gozo insuportável, fora dos
limites fálicos. Daí o alívio pela droga, real contra real.
Pois bem, durante esses anos de tratamento,
todos os três continuaram com o uso de uma droga
de substituição, a metadona, para evitar os sintomas
de abstinência do opioide, além de medicamentos
antidepressivos, antipsicóticos e outros. O uso do boi está
ausente ou em lapsos esporádicos para o “homemdacasa”
e para o “ninguémligapramim”. O “tudobem” não usa
mais xaropes. O “ninguémligapramim”, de um lugar de
demandar apenas receitas ao analista, e nunca ter sido
dejetado por este, um dia aceita a questão colocada:
“o que vai fazer com o ‘ninguémligapramim’ além de
usar o xarope?” Uma resposta diferente foi uma maior
responsabilização por sua pessoa, se afastar de usuários
de xarope e sustentar uma profissão que, apesar de estar
mudando sempre, proporciona um ganho financeiro que
permite sua sobrevivência. E além disso alguma aceitação
familiar. Para o “tudobem”, quando interrogo a cada sessão
“tudo bem?”, isso lhe permite aceitar e falar de muitas coisas
que não estão bem em sua família e de como ele é levado
a ocupar o lugar de droga. Isso possibilita também alguma
responsabilização por parte do sujeito pela manutenção
desta situação, o que lhe permite tentar sair desse lugar de
objeto, através do retorno aos estudos, mesmo sem o apoio
dos pais, com vistas a tentar, através de uma profissão, um
186 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 179-189, 2015