Page 184 - revista_ato (1)
P. 184
efeitos da transmissãoA turma do boi

fixidez da identificação com o objeto “a” como dejeto. A
identificação não é simbólica, mas real, porque ultrapassa a
metáfora. Uma identificação a um S1 sozinho, desarticulado
de um S2. O sujeito pode se transformar num rebotalho,
negligenciando a si mesmo ao ponto mais extremo. O sujeito
vai na direção de realizar o dejeto sobre sua pessoa. Finalmente,
pode defender-se disso por meio de um maneirismo extremo
(MILLER, 2012, p. 415).

Enfim, identificação ao dejeto do qual todos os
três, em algum momento do tratamento, se aproximaram
perigosamente. Momento no qual cada um deles estaria
reduzido literalmente a uma droga, a um gozo sem limi-
tes. Momento adiado, por haver uma relação transferen-
cial sustentada pelo desejo do analista que permitiu uma
escansão, um espaço que evitou essa identificação maciça
entre o objeto droga e o sujeito.

Deixemos, então, o que existe de universal, pon-
tos que existem em comum entre esses três sujeitos, e retor-
nemos ao que foi possível capturar de singular na transferên-
cia de cada um deles com um analista. Esse singular é o que
explicita, sob a forma de significantes, a posição, o lugar, a
resposta ao Outro. Um nome do pai, mas não o significante
do Nome-do-Pai. Uma amarração possível que mantém uni-
dos, de uma maneira só sua, os três registros RSI. São signi-
ficantes que se repetiam durante anos nas sessões e que em
algum momento foram pontuados pelo analista, nomeados
para os sujeitos. Poderiam ser os nomes de cada um deles.

Para um dos sujeitos masculinos o nome foi
“ninguémligapramim” (na forma de holófrase). Para o

184 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 179-189, 2015
   179   180   181   182   183   184   185   186   187   188   189