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Ivan Vìtová Junqueira efeitos da transmissão

outro foi “tudobem”. E para o sujeito feminino: “eles
querem me destruir” ou “ela me ama”, mas principalmente
o lugar do “homemdacasa”, um nome do pai para ela. Mas
então, qual o lugar do tóxico para cada um?

O “ninguémligapramim” usava o opiáceo ao
mesmo tempo para sustentar esse lugar de rechaçado pela
família, de drogadicto, e buscar estancar o gozo que provi-
nha desse não lugar no desejo do Outro. Um limite para o
insuportável de um vazio não delimitado pela identificação
fálica. O que entendo como o que Lacan nomeou de “uma
desordem provocada na junção mais íntima do sentimento
de vida do sujeito” (MILLER, 2012, p. 410).

Já para o “tudobem”, a droga proporcionava um
gozo que também trazia um alívio para o insuportável de um
vazio da ausência de uma identificação fálica. E o mantinha
colado aos nomes que os pais lhe davam, quais sejam:
viciado, vagabundo, esquizofrênico, etc. A droga também
o ajudava a manter o “tudobem” para não falar sobre essa
posição de dejeto, de objeto de gozo do Outro, que ocupava
dentro de sua família, que inclusive o desautorizava como
pai, em relação a seu filho e na presença deste. Diante disso,
sua resposta era o “tudo bem” e para isso ser suportável,
fazia o uso do boi.

Quanto ao “homemdacasa”, o uso do xarope se
dava quando essa identificação a uma letra começava a ruir.
Seja por querelas no trabalho, seja por aperto financeiro
que ameaçavam a manutenção de sua função profissional e

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 179-189, 2015 185
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