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Ivan Vìtová Junqueira

profissão, ter um lugar ao sol, permanecendo em “bicos”
ou numa errância entre empregos.

O sujeito não se ajusta, não no sentido da revolta histérica ou
da maneira autônoma do obsessivo, mas quando existe uma
espécie de fosso que constitui misteriosamente uma barreira
invisível (MILLER, 2012, p. 412).

Ou então acontece o contrário, quando há uma efeitos da transmissão
identificação excessiva com a profissão, onde uma função é
o “único princípio de mundo” de um sujeito. No caso de nossa 183
turma, os dois sujeitos masculinos tinham pouco estudo,
viviam de bicos ou não trabalhavam e eram auxiliados por
familiares. Já o sujeito feminino era concursado do serviço
público, tinha curso superior e auxiliava sua família (mãe e
irmãos). Seu trabalho era tudo para ela.

Em relação ao corpo, todos eram tatuados e o
sujeito feminino era obeso e se identificava como homos-
sexual, comportando-se, vestindo-se e referindo a si mes-
ma como pertencendo ao gênero masculino.

Porém, o mais evidente era em relação ao
aspecto subjetivo, em relação à “experiência de vazio, de
vago, de vacuidade”, onde se percebe um índice destes
aspectos de natureza não dialética. Para os três membros
da turma era impossível a “falta a ser”. Quando esse vazio
se presentificava, a resposta era sempre o uso de drogas.
Não havia a percepção de um ponto de angústia, uma
nomeação dela, mas uma ligação direta, uma passagem ao
ato para a intoxicação. Outro aspecto comum era uma

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 179-189, 2015
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