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Gilda Vaz Rodrigues efeitos da transmissão

Na psicanálise, o corpo se revela como
puro acontecimento, opaco ao sentido, e se manifesta,
principalmente, por meio da angústia.

Numa análise, o corpo permanece deitado no
divã, posição de exclusão e inclusão, num só tempo, numa
posição tão específica do trabalho analítico que o próprio
divã se tornou um signo do “fazer análise”.

Durante um tempo desse trabalho, o corpo pode
parecer ignorado ou alheio à riqueza das associações que
povoam quase todo o campo da experiência analítica. Mas,
não todo.

A entrada em cena do corpo é correlativa à entrada
em cena do gozo. Há um nível de saber que passa pelo
corpo na medida em que todo o saber formulado se esgota.
É aí que se dá toda a diferença. Aquele que percorreu a via
de seu inconsciente – que aprendeu a escutá-lo, a lê-lo, a
levar em conta a existência de um campo do real que lhe
impõe a extrema solidão do Um-sozinho que se é na trama
da vida – terá mais recursos para se haver com as perdas
que vão extraindo, de cada um, os seus objetos.

E que recursos seriam esses?
Lacan formulará o conceito de sinthoma a partir
das marcas de gozo que comemoram a conjunção do Um
sozinho com o corpo.
Não sei se tudo isso parece muito abstrato,
afinal, o que é o sinthoma?

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 167-177, 2015 173
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