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Gilda Vaz Rodrigues efeitos da transmissão
ao analisante que diga o que lhe vem à cabeça, e vem muita
tolice. A tolice, entretanto, tem tempo curto e não vai muito
longe. Muitas coisas que são ditas passam e não voltam. O
que não é tolice persiste e insiste. Dizemos, então, que isso
é da ordem do real, que volta sempre ao mesmo lugar.
Muita tolice é produzida, também, no campo teó-
rico. Algumas ideias, entretanto, persistem e se tornam um
marco no pensamento da humanidade, como as teorias de
Marx, Freud e Darwin, por exemplo, produzindo um corte
epistemológico ao introduzir algo novo no pensamento da
humanidade. Isso é encontrado em todos os níveis de pro-
dução. Por isso, Lacan se refere ao fato de não se reler com
frequência e, quando o faz, ficar admirado com algumas de
suas formulações que persistem com atualidade, constatan-
do que o que foi dito anos atrás, não é tão tolo assim.
O estilo de Lacan possibilita que se possa extrair
o que não é da ordem da tolice.
Na clínica psicanalítica constatamos isso por
meio da repetição de restos que resistem a esse trabalho.
Aliás, este é o sentido do termo resistência para Lacan. É
com esses restos que o analista vai operar. São restos de
significantes que não se encadeiam, que não fazem laço e
que, portanto, perduram como marcas indeléveis que se
repetem como um “bate-estaca”, ou como um enxame,
zumbido, permanentemente. O termo em francês, essaim
(enxame), joga homofonicamente com o significante
unário (S1).
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 167-177, 2015 169
ao analisante que diga o que lhe vem à cabeça, e vem muita
tolice. A tolice, entretanto, tem tempo curto e não vai muito
longe. Muitas coisas que são ditas passam e não voltam. O
que não é tolice persiste e insiste. Dizemos, então, que isso
é da ordem do real, que volta sempre ao mesmo lugar.
Muita tolice é produzida, também, no campo teó-
rico. Algumas ideias, entretanto, persistem e se tornam um
marco no pensamento da humanidade, como as teorias de
Marx, Freud e Darwin, por exemplo, produzindo um corte
epistemológico ao introduzir algo novo no pensamento da
humanidade. Isso é encontrado em todos os níveis de pro-
dução. Por isso, Lacan se refere ao fato de não se reler com
frequência e, quando o faz, ficar admirado com algumas de
suas formulações que persistem com atualidade, constatan-
do que o que foi dito anos atrás, não é tão tolo assim.
O estilo de Lacan possibilita que se possa extrair
o que não é da ordem da tolice.
Na clínica psicanalítica constatamos isso por
meio da repetição de restos que resistem a esse trabalho.
Aliás, este é o sentido do termo resistência para Lacan. É
com esses restos que o analista vai operar. São restos de
significantes que não se encadeiam, que não fazem laço e
que, portanto, perduram como marcas indeléveis que se
repetem como um “bate-estaca”, ou como um enxame,
zumbido, permanentemente. O termo em francês, essaim
(enxame), joga homofonicamente com o significante
unário (S1).
Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 167-177, 2015 169