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efeitos da transmissãoLer, escrever e... Se reinventar

Tal como a vida, a psicanálise vai produzindo
uma desconstrução, um desmantelamento daquilo que nos
serviu de suporte durante algum tempo. As coisas caem,
passam e se perdem. Se pensarmos pela via do phalus, esse
caminho acarreta uma destituição subjetiva, uma perda de
potência fálica, um reencontro com o horizonte desabitado
do ser. Isso vai ao encontro do que é formulado sobre o final
de análise, como uma assunção pelo sujeito do “nada que
ele é”, no nível do seu inconsciente, pois em outros níveis
da sua existência ele é múltiplas coisas. É isso que Lacan
chamou de encontro com o real, ou com as vestimentas
fálicas, com as quais nos sustentávamos, quando começam
a se desfazer.

Porém, existe algo na estrutura do sujeito que
perdura. Há alguma coisa que não passa e que constitui
a marca do próprio sujeito, seu sinthoma. Podemos dizer
que o sinthoma é o que resiste do sujeito e em relação ao
qual só poderá reinventá-lo.

O saber disso nos torna menos tolos frente ao
real, nos torna capazes de encontrar uma outra satisfação,
além do campo fálico. Os restos não simbolizados pela
operação analítica não serão absorvidos, permanecerão,
para sempre, inconscientes, enodados ou não, na fantasia
de cada um. Existem substâncias gozantes suplementares,
objetos que se acrescentam como fontes de prazer além da
ordem simbólica. Pode-se pensar em uma solidão própria

174 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 167-177, 2015
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