Page 90 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaSexuação, gozo e pulsão

Do ponto de vista clínico, vale frisar que alguns desses as-
pectos podem se localizar com mais precisão quando recor-
remos à sexuação. Sexuação é o termo que designa o modo
bastante específico como Lacan irá abordar a relação de
cada sujeito com a sexualidade, não exatamente como um
ponto de partida naturalizado, porém, como um momento
de chegada. Daí, a ideia de trabalho, de trânsito e de des-
locamento encrustados na palavra sexuação, bem distante
da aparente naturalidade ou estabilidade dos termos sexo
e sexualidade. Portanto, sexuação é o modo como Lacan, a
partir certamente daquilo que é constatado no campo da
experiência analítica, define as formas possíveis de cada
sujeito se haver com os efeitos da castração: está em jogo
mais as trajetórias do que os atrelamentos que enrijecem:
routes ao invés de roots. É exatamente em “O Seminário 20:
mais, ainda” que surgem, de maneira mais acabada, as no-
meadas fórmulas quânticas da sexuação. Elas se organizam
por meio de dois modos de gozo. Estes, podem transpas-
sar diversos gêneros. E os gêneros, segundo Lacan (1985),
por sua vez, estariam subsumidos a dois posicionamentos:
um gozo face a uma presença (gozo fálico) e um gozo face
a uma presença não preenchedora, apontando, pois, para
uma ausência, relativo à posição chamada mulher. O pri-
meiro, pela demarcação de um perímetro, o que permite
que ele se agrupe, se coletivize, faça um conjunto e uma
totalidade; o segundo, também nomeado Outro gozo, pela
assíntota, consequentemente, tendendo para uma aber-
tura, um suplemento que ultrapassa a demarcação de um

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