Page 52 - Revista ATO Ano 4 N 4
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A economia pulsional, o gozo e sua lógicaRepetição na clínica: o que de novo se escreve

damentais da psicanálise”, de 1964, a partir de Freud em
“ Além do Princípio de Prazer”, de 1920. Freud, aí, des-
creve a ocorrência de uma compulsão à repetição que se
manifestava na neurose traumática de guerra, na reação te-
rapêutica negativa, no sintoma e nas brincadeiras infantis.
Ele fala de uma força que vai “mais além do princípio do
prazer” e que está relacionada à pulsão de morte. Nesse se-
minário, Lacan demonstra o trajeto da pulsão na topologia
do oito interior, em que o objeto a é contornado pela pul-
são. Na perspectiva lacaniana, a repetição é uma tendência
a retornar, que orienta o sujeito na busca do objeto, o que
revela o movimento da pulsão de morte e uma fixação num
gozo demasiado, gozo do Outro, que está fora do simbólico.
Nesse circuito, a pulsão, ao repetir, nada escreve. Mas, a
partir da entrada do sujeito em análise, há uma aposta que
algo pode ser mudado, e que, no circuito pulsional, possa
ocorrer novas escritas. O que de novo se escreve a partir do
que se repete na clínica? Como operar a direção da cura?
Para Lacan, o que se repete é o encontro com o furo na es-
trutura, com o vazio de significação que ele vai chamar de
troumatisme. Para entender como esse vazio se estrutura e
como esse traumático se inscreve, é importante abordar o
conceito de recalque originário.

No texto “A negativa”, Freud (1925) fala dos processos que
operam no início da estruturação psíquica e que permitem
a delimitação desse furo. Esses processos são austossung e
bejahung. O recalque originário surge junto com esses dois
processos, como nos mostra Solal Rabinovitch (2001), em

52 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, ano 4, n. 4, p. 51-59, 2018
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